Oswaldo Baldin é capixaba desde sempre, nascido em Bom Jesus do Norte, no extremo sul do Espírito Santo. No município onde Baldin passou sua infância não existem montanhas, nem paredões rochosos. Mas ele já possuía algum instinto voltado para as alturas: foram muitas as “escaladas” em barrancos e em cordas que amarrava entre árvores tentando montar travessias e descidas. Sem receber nenhuma instrução, tudo acontecia como fruto do seu imaginário. A família ficava de “cabelo em pé” ao presenciar aquele menino lá no alto! Em 1995, ao folhear uma revista, Baldin se deparou com uma imagem que definiria seu destino: a foto de uma pessoa dependurada em uma pedra, escalando-a. Aquilo lhe chamou muito a atenção e produziu uma conexão direta com aquele tal instinto voltado para as alturas. Foi nesse momento que, aos 15 anos, Baldin deu o pontapé inicial para o que viria a se tornar o seu estilo de vida.
Foram muitos os desafios: cidade pequena, não conhecia ninguém que praticasse escalada, não havia com quem aprender, nem sabia como conseguir equipamentos. A vontade era grande, mas os recursos eram nulos. A forma que encontrou foi ir para as bancas de revistas e descobrir quais tinham matérias sobre escalada para estudar sobre o esporte. A internet ainda não chegara por lá. De tanto olhar imagens, acabou se aventurando em fabricar alguns equipamentos. Conseguiu convencer um amigo sobre o sonho de ser escalador e juntos tentavam interpretar e aplicar técnicas de segurança vistas nas revistas. Com aqueles caseiros e inseguros equipamentos e calçados com um tênis de futsal, lançavam-se à aventura de subir pedras no entorno do sítio de seus avós.
Em 1997, Baldin mudou-se com a família para Vitória e descobriu que existiam escaladores na capital do Estado. Bingo! Era um pequeno grupo, que tinha o hábito de se reunir às quartas- feiras na Ilha do Boi para escalar, à noite e à luz de refletores, em uma pedra encravada na área urbana. Foi lá que o tímido adolescente do interior se encantou com a verdadeira escalada. Quando Baldin mostrou seus equipamentos caseiros para o grupo, um veterano escalador disse em alto tom: “É, menino! Você tem sorte de estar vivo!” Felizmente, aquele grupo de menos de uma dúzia de pessoas resolveu adotar o adolescente e dali em diante foram muitas escaladas, aprendizados, diversão e uma rápida evolução.
Sempre ouvindo histórias sobre as antigas e aventurosas conquistas de décadas passadas, lançou-se ao desejo de repetir as clássicas vias do Estado. Assim repetiu as vias da Pedra do Lagarto na Pedra Azul, dos pontões da Foca, Filhote e Língua de Boi nos Cinco Pontões, do Pico do Itabira, de O Frade e a Freira, dentre outras. Logo, teve as atenções voltadas também para as conquistas. Baldin acabou se tornando o escalador que mais abriu vias no Espírito Santo, e dos mais variados estilos. Parte delas foram vias esportivas na Grande Vitória, contribuindo para que a região se tornasse um centro de “escaladas urbanas”. Mas o que mais fez foi se lançar pelos longos paredões do interior do Estado. Suas conquistas somam mais de 10.000 metros de rochas escaladas, que resultaram em mais de 150 novas vias. São de seu crédito, inclusive, as três maiores vias do ES: O Tempo e o Vento (5º VIIa A1 E3 D4, 1.150 metros), Nada é o Que Parece Ser (4º V E3 D3, 800 metros) e Expresso Lunar (4º V E3 D2, 740 metros). É autor, também, da Moqueca Capixaba (5º A2+ E2 D5, 350 metros), a primeira via de big wall conquistada por capixabas.
Em 2000, Baldin tomou a decisão de tornar seu esporte também sua profissão. Focado nessa ideia, naquele mesmo ano, pediu demissão de seu emprego e abriu a Planeta Vertical, primeira empresa a atuar neste segmento no Espírito Santo. Ministrando cursos, tornou-se a principal fonte de formação de escaladores no Estado e se consolidou como referência no desenvolvimento e operação de roteiros de turismo de aventura.
Sempre engajado voluntariamente com e pela escalada, em 1998, foi sócio-fundador e diretor técnico do Clube de Montanhismo do Espírito Santo (CUMES). Em 2003, foi sócio-fundador da Associação Capixaba de Escalada (ACE), na qual fez parte do Conselho Gestor por vários anos. Dentro das entidades, colaborou com a organização de diversos eventos, como encontros de escalada, ações de manutenção de ambientes naturais, campeonatos de escalada e mostra de filmes; ministrou palestras e participou de muitas reuniões com órgãos governamentais buscando o acesso para a prática da escalada em unidades de conservação.
Ao longo dos seus anos dedicados às montanhas, sempre esteve motivado em contribuir para divulgar o potencial da escalada capixaba. Com esse foco, escreveu diversas matérias para revistas, jornais e sites e protagonizou matérias para televisão. Em 2009, recebeu o “Título de Honra ao Mérito” concedido pela Prefeitura Municipal de Vitória pelo trabalho desenvolvido em prol do desenvolvimento do esporte no Estado. Em 2013, recebeu uma placa comemorativa como maior conquistador de vias de escalada do ES.
A partir de 2009, Baldin começou a divulgar a escalada capixaba também através das produções áudio-visuais. Produziu, então, seu o primeiro curta-metragem, batizado de “Com a Macaca”. O filme, que narrou a escalada do principal campo escola do Estado, foi premiado como “Melhor Direção” na 9ª Mostra Internacional de Filmes de Montanha. Em 2013, formou-se em Rádio e TV e as produções continuaram. Produziu uma websérie para um importante portal de esportes de aventura, com temática voltada para os locais onde escalar no ES. Em 2013, no Rio Mountain Festival, seu filme “Amigo Imaginário” foi vencedor em três categorias: “Melhor Filme Brasileiro”, “Melhor Filme Voto Popular” e “Melhor Filme Júri Oficial”. Em 2015, com o filme “Sol Invicto”, foi novamente premiado no Rio Mountain Festival, como “Melhor Filme de Montanhismo e Escalada”. Seus filmes participaram também de outras mostras e festivais pelo Brasil.
Entre viver para escalar e viver da escalada, ao longo dos anos, dentre os diversos projetos em que se envolveu, sempre teve as atenções voltadas e trabalhou para um projeto em especial: escrever um livro que fizesse um apanhado histórico e técnico sobre todas as vias existentes no ES. Foi mais de uma década escalando, catalogando vias e transformando todo este conteúdo, finalmente, em páginas de livro. Com muito esforço, empenho e perseverança, após 22 anos dedicados às montanhas, com a publicação do livro “Escalada Capixaba” Oswaldo Baldin concretiza a realização do seu maior sonho… até então.
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